quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Entropy, Entropia, εντροπία: Charles Ives - "The Unanswered Question" e outras perguntas não respondidas, Brother



Três tentativas apenas, mas o eco de sua voz aponta, inevitalmente, para a única direção da seta do tempo: cada vez menos informação/energia útil pode ser utilizada. O poeta Robert Frost se perguntava ainda se o mundo terminaria em gelo ou fogo, mas, desde o Nobel de 2011, já não resta nenhuma dúvida de que tem o controle há 5 bilhôes de anos. São estes belos conceitos, digamos, "capitulativos" que nos ocupam com aquelas questões quase que "retóricas", já que o universo começou e terminará sem nosso aplauso, pois, depois do alvará da criação, seu engenheiro entrou em férias ou aposentadoria prematura, quem sabe, no ressort do nada e passou uma procuração para a entropia cuidar dos aspectos burocrárticos do longo processo, ou você teria alguma dúvida de que a natureza trabalha em favor do erro e que, no cerne de todos os encadeamentos catastróficos, parece sempre existir uma força amorosa secreta que investe na mesma direção mais improvável e, no balé macabro de suas simultaneidades, finalmente se encontram produzindo dano total. Por outro lado, existe, sim, uma possibilidade matemática remota de 50 chimpanzés digitarem, em velhas máquinas de escrever, num canto remoto do universo, todos os sonetos de Shakespeare, mas seria bom não esperar por isto, nem tentar atravessar a parede à sua frente.

Energia e materia escuras são enunciados que, no método científico, denominam-se, de acordo com a retórica aritotélica, "apofânticos", ou seja, a ciência descreve o que NÂO pode ser, como uma cerca mal ajambrada diante do precipício das significações. Conhecemos as propriedades e efeitos de ambas, isto é, a menos que você seja adepto de MOND, por exemplo, é como pedir a conta no restaurante e saber que a gorjeta é mais de 70%.

Duas velhinhas estão num asilo e uma diz para outra: Nossa, como comida por aqui é uma porcaria! E a outra retruca: Além disso, é pouca! Isto é a vida. Dura pouco, é tediosa e geramente é uma tremenda porcaria, salvo quando, do vácuo quântico, fulgura uma piada de Monty Python, ou uma melodia como a "Galaxy Song". Mas a vida enquanto auto-organização desafia esta entropia com sua matemática do caos. De maneira paradoxal, a vida, em sua tenacidade (apenas da perspectiva da geologia terrestre), parece ser um imperativo como febre auto-reflexiva da matéria para um dia cair em contradição e ser a contraparte da entropia, pois ela obedece a rigorosos padrões matemáticos, perfeitamente descritíveis. O velho Hegel afirmara uma vez que só é verdadeiro o que não produz contradiçâo, mas trata-se exatamente do contrário: somente pode ser verdadeiro aquilo que produz a contradição.

Pois seja o que for a "vida", e sua dignidade como pergunta e tentativa, ela não é e nem nunca foi apenas o produto da mera "adaptação" ao meio, ao contrário, ela sempre produziu um "excesso" de formas e padrões que os cientistas chamam quase que, por licença poética, "estéticos". Sabemos que existe vida apenas na terra. Sabemos também que existe vida com humor apenas na terra na busca permanente da piada definitiva. E sabemos também que a vida existe, porque o céu é escuro, apenas alguns kelvins acima do zero absoluto, caso contrário, seríamos assados naquele espeto universal da churrascaria da criação

Mas basta apenas olhar para o céu na distribuição uniforme de matéria visível e ver o absurdo, pois ele é uma imensa piada na forma de uma perfeita curva de corpo negro e somente poderia haver uma explicação plausível para que nossos vários modelos inflacionários encontrem um denominador comum com essa pequena jóia criogênica chamada sonda Max Planck e, bravamente, com nosso método "apofântico", chutaremos a cerca apenas alguns metros um pouco mais para longe.

No final do XIX, o fantasma da entropia e sua morte pelo gelo assombrou e também incediou a imaginação artística como diagnóstico da decâdencia da civilização européia. Se a própria história é um "motor", ela também deverá estar submetida às mesmas leis que organizam os processos físicos e químicos. O dramaturgo Alfred Jarry esboçou na figura do pai Ubu uma nova ciência que chamou de "Patafísica", justamente aquela que faz as perguntas que nenhum departamento ou instituição pode formular com dinheiro público. A Patafísica se define como a "ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções" Por exemplo, qual seria a superfície de Deus. Não parece tão aburdo assim quando imaginamos que o tamanho do universo real, em relação ao seu horizonte de visibilidade no campo profundo do Hubble, seria, numa estimativa modesta em ordem de grandeza, equivalente à distância do núcleo à nuvem eletrônica que o circunda. Um ser humano andando é uma bolsa de água instável com um capacitor elétrico que produz contra-imagens e sonhos difusos, cujo centro de gravidade mal pode ser calculado no seu andar desengonçado. Como ele aprende a ficar de pé é uma história de amor a cada nova criança. Mas antes que as luzes se apaguem, finalmente, talvez você queira saber as respostas àquelas perguntas "definitivas" que o History e o Discovery Channels prometem responder depois do intervalo: Afinal, o que existe na área 51, quem assassinou J.F.Kennedy, e o que fizeram, enfim, com os cadáveres da autópsia de Roswell, pois o desejo de tudo não passe de um conto de fadas que a mamãe nos contou antes do beijo de boa noite será a imagem final antes que seus olhos se fechem. Será que alguém se lembrará de que você esteve na superfície do planeta, Brother, pois, certamente, a seta do tempo aponta que não haverá outra vida, nem ilha, e que não existe nenhuma possibilidade de você nascer de novo com a cara do Sawyer e, mais ainda, já que todos os sinais eletromagnéticos de vestígio humano a alguns anos luz em nossa vizinhança ainda são pura estática da qual não se pode extrair qualquer informação útil e se confundem com o ruído de fundo, eu não colocaria mais nenhum centavo no Setti, pois isto não é mesmo, definitivamente, ciência, Brother, a Grande Ciência não se baseia em "sustos" e "wishful thinking"

e o que você fará, então, esperar o último próton decair e suspirar, "ah, já estava mais do que na hora" e agora posso "não existir" mais em paz, o último apague as luzes. Haveria outras perguntas mais técnicas, que obcecam a maioria dos cientistas na tristeza burocrática de suas carreiras sem brilho, enfim, como é possivel existir num universo que literalmente "desconstroi" as evidências de seu desenvolvimento, sua própria historicidade material, pois sua acelerada expansão tornará nossa vizinhança cada vez mais solitária e, para este observador de um futuro remoto, não haveria mais a possibilidade sequer de reconstruir o que nós ainda podemos com a CMB e as supernovas 1A. Literalmente, o horizonte estaria "vazio" e seu "paradoxo" atual, que nos leva necessariamente à curvatura quase zero em grandes escalas (K 0) deixaria de ser um problema. Mas certamente a pergunta mais solitária e desesperada é que, nesse tempo remoto, não existira nenhuma "ilha de calor" para os nossos sonhos colonizarem, enfim, para onde iriam os nossos sonhos, memórias, o que amamos e odiamos, o último vestígio de informação útil daquilo que já foi certa vez seu "corpo" e a ilusão de "alma" que ele engendrou como um espasmo no abismo frio e escuro da noite eterna.

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