quarta-feira, 29 de junho de 2011

70 Anos da Operação Barbarossa - "Finis Germaniae" - A Nova Guerra Européia dos Trinta Anos - Entrevista com o Historiador Hans Ulrich Wehler

Há setenta anos, nas primeiras horas da madrugada de 22.06.1941, divisões do "Gruppe Mitte", do General Fedor von Bock, cruzavam a linha demarcatória, na extinta Polônia, traçada um ano e meio antes nos anexos secretos do Pacto de Não-Agressão, firmado por Ribbentrop e Molotov no Kremlin, em direção à fortaleza de Brest.

Naquele momento, todas as linhas dos conflitos da década que se encerrava entre os "frontes populares" da Europa continental unificavam-se, finalmente, numa única Guerra Civil Mundial titânica do Atlântico aos Urais, tendo Hitler e seu anti-semitismo como força motriz.

Um oficial, veterano do antigo fronte ocidental de 1916, confessou ao seu batalhão: "Este é o Finis Germaniae", "Este é o fim da Alemanha como nós um dia a conhecemos". Porque se enganam completamente os que ainda acreditam que este lance, e os alemães quase ganharam a guerra nesta única cartada, teria sido motivado pela pilhagem do trigo ucraniano ou do petróleo do Cáucaso, ou mesmo a extensão do sistema concentracional e escravagista moderno com milhões de subumanos, ou seja, em última instância, por um objetivo "racional", incorporando ao Reich os domínios europeus da Rússia czarista como o Báltico e a Ucrânia. Esta era apenas a superfície do teatro de guerra.

Para Hitler, o judaísmo e o bochevismo eram exatamente a mesma coisa, duas faces da mesma moeda na caricatura do Comissário Político e sua "bestialidade".

Aquela Cruzada de Extermínio era o gesto final de sua missão anti-humana e anti-civilizatória.

Como reconhecia seu falecido biógrafo Joachim Fest, a diferença entre Hitler e todos os outros tiranos que o precederam, e até nele se inspiraram no futuro, é que sua loucura, de fato, não contemplava nenhum verniz "humano", qualquer traço "construtivo", nenhuma "justificava" visível em nome daquela frágil choupana no deserto que chamamos de "civilização", diante da brutalidade mais atroz. Quanto mais gratuita esta, melhor. Nada seria erigido sobre as ruínas deste mundo pilhado, onde escravos e subumanos marcham em colunas nas estradas sem fim. Exatamente como em "Guerra dos Mundos", ou, mais banalmente, em "Independence Day", quando Bill Pullman reconhece estar falando com gafanhotos, além da reciprocidade, "Nenhuma paz com vocês". A"Nova Ordem" seria uma estepe de cidades despovoadas, colheitas queimadas e fábricas em ruínas, como ilustra o olhar olhar deste soldado "ariano" diante "daquilo" que para ele é um "subumano asiático" a serviço da conspiração criminosa entre o judaísmo internacional e a plutocracia e Barbarossa é a prova de que os alemães foram vítimas de sua própria propaganda política.

Foi justamente depois de saber do encontro de Churchill e Roosevelt no couraçado Ausgusta em Placent Bay em agosto três meses depois, que Hitler conclui, finalmente, confirmando suas auto-profecias, que esta conspiração entre a plutocracia americana e o judaísmo internacional exigia o "extermínio final" de todos os 11 milhões de judeus da Europa, que seria selada em Wannsee em janeiro de 1942.

Aqueles que ainda emprestam à palavra "ideologia" qualquer autoridade se esquecem de que o nazismo a desmoralizou para sempre, pois ela não "esconde" nada.

Já no final de sua vida dedicada a tentar compreender se havia qualquer "vestígio" de racionalidade neste programa, Fest conclui, amargurado: "Não, Hitler foi único". Em seu léxico negativo, o movimento retilíneo para frente não pode ser nunca detido: deportar populações inteiras, remover, destruir, gaseificar, queimar, apagar cidades do mapa, torturar lentamente, esfaimar, asssassinar milhões, de preferência, de modo lento, nenhum sangue derramado seria sufiente para Hitler, sequer o de sua propria "Volksgeimeinschaft", sua "comunidade de sangue", que deveria também sucumbir por ter se revelado inferior na luta.

Cada campanha de extermínio exigiria uma outra. Como na vizinhança de um "buraco negro" da História, todas as categorias lógicas e racionais de nossa nova "física" fracassam quanto mais nos aproximamos do genocídio industrial e Auschwitz, recuando como uma "singularidade nua", um contrasenso total no qual as leis dos "movimentos históricos" não têm mais qualquer autoridade. Em outras palavras, Auschwitz aboliu a História como categoria. Mas a busca pelas "continuidades" e "nexos" nos convida a permanecer deste lado onde a lógica ainda impera e a História ainda pode ser escrita com "categorias", causalidades, pois elas nos oferecem uma segurança e conforto aparentes.

E deste outro lado da "singularidade crua" que é Auschwitz, os livros, depoimentos, documentários ou mesmo os compêndios história militar nos convencem, em sua "exemplaridade clássica", de que se a "Wehrmacht" pudesse ter influenciado, ainda na metade do verão de 1941, "racionalmente", o curso dos acontecimentos, a guerra teria sido decidida em menos de 22 semanas, como previsto inicialmente, com um "thurst" único em direção à capital, o que faz a fortuna dos produtores de games de guerra (muitos chamam-se Barbarossa) e documentários históricos e programas de TV. É verdade também que sequer a BBC acreditava, em setembro de 1941, que, depois dos expurgos, o Exército Vermelho tivesse alguma chance até o Natal. Mas é mais verdade ainda que os Aliados já sabiam, desde então, sobretudo nos Estado Unidos, quando a comunidade judaica começou a pressionar a Casa Branca, que algo de "muito especial", "terrível", pois os relatos que vinham do novo aliado soviético ecoavam na imprensa, que algo "grande", "sistemático" e "definitivo" contra todos os judeus do Leste já estava em curso desde o início da operação.

Mas Hitler resolveu cercar Leningrado, esfaima-la lentamente, pois ela era a matriz do bolchevismo, portanto, a sede do comissário político e do eterno judeu. Os conflitos abertos e operacionais entre a "Wehrmacht" e as SS na campanha polonesa, quando algo como uma certa resistência dentro de alguns setores mais conservadores já se insinuava em relação aos verdadeiros objetivos da campanha militar, fora debelado.

Barbarossa nasceu, de fato, com a "Kommissarbefehl", de 06.06.1941,

que isentava de qualquer processo penal militar o catálogo de crimes a serem cometidos contra civis e oficiais inimigos, a assim chamada "diretiva para o extermínio dos comissários políticos, judeus e partisães", ou não-pessoas que "sind auf der Stelle mit der Waffe zu erledigen", ou seja, exterminados no ato com a pistola. Esta diretiva foi cumprida, com raríssimas exceções, em quase todos os escalões da hierarquia.

A "Kommissarbefehl", foi - para usar um eufemismo, já que particularmente detesto a palavra "direito internacional", uma expressão "kitsch" e pomposa, justamente para facilitar o trabalho do inimgo, quando se enche a boca com estes arremedos humanistas, pense no general sérvio bósnio Ratko Mladić debochando dessa retórica e suas milícias recrutadas em todas as cadeias, sedentas de sangue, no enclave de Srebrenica, no nariz da ONU, diante das câmeras distribuindo balinhas para as crianças, mas quando a luz se apaga, ele pega as balinhas de volta e ainda dá umas porradas nos meninos, nem a ONU nem a retórica do direito internacional são capazes de deter a barbárie, só a força, - a saber, a diretiva sinalizava um caminho sem volta, como em toda a carreira criminosa, há um momento de definição, ou ganhamos a guerra ou seremos enforcados em nome deste "direito internacional". Quando a ditadura argentina mal terminara de lavar as mãos do sangue, só mesmo uma guerra, se não com o Chile, até com os pinguins, poderia "purgar" sua culpa. Mas nem mesmo esta fraternização no crime, e este era o momento verdadeiro de triunfo para Hitler, aquilo que reivindicou em seu testamento como seu "legado", superava os desacordos entre "Fuehrer" e, agora, "sua Wehrmacht", ainda inebriada com a memória da campanha sobre a França, sobre o significado desta nova "vitória", aparentemente já tão próxima.

A verdadeira missão de Hitler no Leste, sua direção operacional, foi confiada, no entanto, exclusivamente às SS na retaguarda, numa espécie de "divisão de trabalho" com a "Wehrmacht" nesta primeira fase do "genocídio por fuzilamentos em massa", quando aproximadamente 3000 soldados na Ucrânia, Estônia, Letônia, Lituânia, Bielo Rússia executaram mais de 1.200.000 civis judeus em menos de três meses, a maioria mulheres, crianças e idosos.



Mas, como afirmei, estamos deste outro lado da "singularidade crua" e a ciência histórica pode nos oferecer ainda algumas explicações sobre a "peculiaridade" de certos desenvolvimentos. O historiador da Universidade de Bielefeld Hans Ulrich Wheler

pertence a uma linha teórica que defende a idéia de que a brutalidade sem precedentes da guerra de extermínio alemão no fronte oriental representou o desfecho de um "Sonderweg" da modernização autoritária e militarizada, ou da prussianização do país, feita de "cima da baixo". Ele se alinha também a uma vertente que defende a idéia de só podemos entender a Segunda Guerra como o desfecho de uma nova "Guerra Européia dos Trinta Anos". Se a primeira Guerra do Trinta Anos sangrou demograficamente os principados alemães em quase 70% de sua população, um fantasma que a assombrou po séculos, o novo conflito produziria mais de 15 milhões de refugiados e se inscreve na memória coletiva de todos os povos como a memória do extermínio definitivo.

Por que o Sr. defende uma revisão histórica das duas guerras mundiais como uma nova “Guerra dos Trintas Anos”?

Hans Ulrich Wehler – Foi Raymond Aron, conselheiro então de Charles de Gaulle, que introduziu a tese de uma nova Guerra Européia dos Trintas Anos. Esta tese nos oferece a vantagem de considerar as duas grandes guerras do século XX, bem como o entre-guerras, também marcado por uma escalação de conflitos, numa mesma constelação de continuidades e rupturas. Para muitos observadores até julho de 1941, quando a Alemanha invade a União Soviética, a Segunda Guerra parecia ser apenas uma guerra européia de revisão do Tratado de Versalhes, e não uma guerra de extermínio, uma Guerra Total. Por outro lado, ela não diminui a absoluta singuralidade do genocídio nazista. Pelo contrário: até acentua as linhas de força de uma escalação, que, para ser plenamente entendida, exige, necessariamente, um recuo à catástrofe inaugural do século XX . O genocídio foi, de certa forma, a resposta à derrota alemã em 1918. Hitler e seu Partido desejavam eliminar as assim chamadas “causas” desta derrota, mas estas não eram apenas militares ou ecônomicas, porém, essencialmente, impregnadas por uma ideologia anti-semita e anti-eslava já inteiramente manifesta na campanha do fronte oriental da Primeira Guerra Mundial.
O debate atual em torno da eclosão do conflito encontra hoje na memória coletiva das nações européias uma ressonância bastante diferenciada. Para ingleses e franceses, ela representa, ainda, a “Grande Guerra”, “The Great War” “La Grande Guerre”, porque suas baixas na população civil e no fronte foram superiores à Segunda Guerra. Já para os alemães é a experiência da guerra aérea, dos bombardeios de superfície, que varreram do mapa a maioria das cidades, esta é a experiência que ainda se mantém viva na memória coletiva. O trauma da derrota em 1918 deixou sequelas psíquicas profundas na população, que se catalizaria em breve num nacionalismo selvagem até, finalmente, encontrar em Hitler sua força motriz e unificadora.

Portanto, o conceito de “Guerra Total”, isto é, a fusão dos frontes externos e doméstico, já estava prefigurado em Verdun, como preâmbulo de um primeiro genocídio de minorias em escala industrial?



Hans Ulrich Wehler - A Primeira Guerra Mundial conduziu a uma brutalização nunca antes experimentada, pela tecnificação e industrialização do maquinário militar nos quatro anos da luta corpo-a corpo nas trincheiras e na “batalha de material”.

Milhões de homens retornaram do fronte impregnados por um sentimento de desprezo pela vida civil e com uma grande experiência no manuseio de armas. Este corpo-a-corpo continuará nas ruas alemães na fracassada Revolução Comunista de 1918 e numa guerra civil que destruiria a República de Weimar e, depois de 1933, na preparação para a nova guerra.

Mas apenas esta brutalização não é suficiente para explicar a escala do genocídio posterior, pois a elite nazista que o planejou e o executou era uma geração nascida por volta de 1915, ainda muito muito jovem para participar da Primeira Guerra, como Albert Speer, parte considerável da generalidade e das SS, que ainda estavam na infância para lamentar ter participado da Primeira Guerra. Esta geração não tinha a experiência direta com a morte como os ex-combatentes do fronte de 1914 e logrou levar a cabo, tecnocraticamente, um genocídio numa escala nunca antes imaginada, assassinos de escrivaninha como Eichmann.



Na história americana não existe Verdun, nem tampouco Auschwitz, mas o 11 de setembro. Como a população americana poderá superar o trauma do 11.09, além do capítulo do governo Bush?

Hans Ulrich Wehler - Os americanos vivenciaram a Guerra Civil há cento e cinquenta anos. Para um país protegido por dois oceanos e sem qualquer rival diante de seu poderio militar, o 11 de setembro representa uma enorme derrota. Numa única noite em julho de 1943 o ataque britânico a Hamburgo matou 38.000 pessoas, em fevereiro de 1945, em Dresden, 135.000.

Desta maneira, os europeus tendem a avaliar a reação americana como histérica. O problema é que quando um país passa quase 200 anos sem ter nenhum contato direto com o inimigo o choque ganha um sentido simbólico Mesmo que Al Gore fosse o presidente - e acredito que neste caso o Iraque não tivesse sido invadido -, a pressão politica interna não encontraia outro saída senão neutralizar o regime do Taleban. Mas Bush aproveitou o vácuo psíquico deste deste trauma não para lançar uma estratégia efetiva de combater este novo terrorismo, mas para fazer do Iraque o alvo único de sua política externa.
A distância entre o Norte e o Sul somente aumenta. Em, 1950 a distância entre o mundo árabe e o Norte era muito menor do que hoje. O mundo ocidental atravessou neste período um salto de properidade como nunca experimentado na história, enquanto no mundo árabe a estagnação se multiplicou em função de uma elite corrupta e me parece que seja tosco argumentar que isto se deve apenas ao apoio e à exploração das potências ocidentais a regimes como o do Arábia Saudita, cuja essência é a repressão. Os tigres asiáticos conseguiram dimuniur esta diferença. Portanto, as causas da miséria destas populações reside nas constelações de poder locais e desde o fim da Guerra Fria esta questão se coloca com mais ênfase. Para milhoes de árabes, o sentimento de humilhação somente se reforça com a supremacia cultural americana que desmente a cada instante o padrão de vida local e fortalece a idéia banal de que exista uma conexão direta entre esta miséria e a exploração do Ocidente. A América Latina encontrou seu caminho nas duas útlimas décadas para o crescimento. O ressentimento contra a América é universalmente difundido, mas até agora não se traduziu como esta forma virulenta de terrosimo. O mundo árabe perdeu simplesmente este passo e, ao contrário de outros contextos culturais, não consegue exercer auto-crítica.

domingo, 26 de junho de 2011

In memoriam Dana Vávrová (09.08.1967 - 05.02.2009)

É uma dessas notícias terríveis que gelam nosso coração. A bela atriz tcheca Dana Vávrová faleceu em Munique, de câncer, em fevereiro de 2009, aos 41 anos. Dana atuou em clássicos como "Amadeus", "Stalingrad", mas, para mim, seu papel como Janina Dawidowicz na série "Ein Stück Himmel", "Um Pedaço de Céu", 1982, baseada na autobiografia da autora e sobrevivente do Gueto de Varsóvia, "A Square of Sky: A Jewish Childhood in Wartime Poland"(1964), é uma das memórias mais belas que tenho de uma série televisiva. Fiz um upload da encenação de Branca de Neve para as crianças do gueto, uma doce despedida da infância e sua inocência.


Kommt erst mein Prinz zu mir
und führt mich fort von hier,
zieh'n wir beide in's Königsschloss ein
ach, wer könnte da glücklicher sein?

Wenn wieder Frühling ist,
und mich mein Prinz einst küsst
und ein Vögellein singt,
die Hochzeitsglocke klingt,
dann hat sich mein Traum erfüllt.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pop made in Germany

Pop made in Germany

A organização de uma cultura pop genuinamente „made in Gemany“ é um dos capítulos mais instigantes da ocidentalização no fronte da Guerra Fria, porque, antes de acentuar a dualidade politica dos sistemas, esta desafiava, em ambas as partes do país, o lastro visceralmente anti-burguês da recusa cultural nazista ao „american way of life“, recuperando, em seu desenvolvimento, muitas vezes, figuras da crítica romântica conservadora à assim chamada „civilização“, expressão entendida na língua alemã culta como a „decadência cultural“.

A primeira etapa desta batalha pelos corações e mentes deu-se no rádio, na RIAS Berlim.

Não apenas a propaganda ideológica atingia o outro lado da fronteira, mas o jazz, o swing, o beat e a tentação do consumo na vitrine luminosa da ex-capital ocupada no início do milagre econômico em 1957.

A avalanche dos novos ritmos (programa Beat Club, meados de sessenta)

começou com o rebolado irresistível de Elvis Presley

ao chegar a Bremen em 1958 para prestar serviço militar em Wiesbaden, onde este conheceria sua futura esposa Prisiclla no Eagle Club. Na terminologia nazista e no imaginário da geração que sobrevivera à Guerra e ultrapassara os 40, aquilo era, por definição, a „Negermusik“.

Cartaz nazista "É proibido dançar swing"




Lixo cultural do Ocidente

Se na parte ocidental o beat assombrava a imprensa conservadora Springer-Bild com a degradação moral da juventude de cabelos compridos e a flexibilização dos costumes, na parte oriental, o aparelho cultural do SED e o braço da juventude militarizada, a FDJ,

ainda estavam divididos quanto ao caminho a tomar até exatamente a explosão da Beatlemania na turnê da banda (que começara sua carreira nos porões de Hamburgo) na República Federal em 1965. Neste ano, o então secretário geral do SED, Walter Ullbricht,

selou a vitória da ala estalinista mais conservadora no X Congresso do partido:

„Camaradas, será que temos de consumir todo este lixo cultural que vem do Ocidente? Eu acho que temos de por um ponto final nesta monotonia do iê-iê-iê.“ Como observa o historiador da música Peter Wicke, esta dialética entre abertura e fechamento, originária nas divisões internas do Partido, e sua prioridade, por um lado, em capitalizar e domesticar o impulso da revolta das novas bandas, mas, por outro, não conseguir deter suas consequências, marcaria toda a historia da RDA até sua dissolução.



(Versão socialista do programa ocidental Beat Club, o OktoberKlub e o rock de linha partidária pro SED e temática "internacionalista" com Hartmut König na célebre canção

Sag mir wo du stehst
Und welchen Weg du gehst
Sag mir wo du stehst
Und welchen Weg du gehst

Zurück oder vorwärts du mußt dich entschließen
Wir bringen die Zeit nach vorn' Stück um Stück
Du kannst nicht bei uns und bei ihnen genießen
Denn wenn du im Kreis gehst dann bleibst du zurück)



Em 1972, Erich Honecker

flexibilizaria a política cultural, afirmando que não poderia mais haver „tabus“ em artes, embora a censura e a perseguição fossem onipresentes e terminassem no final da década com um êxodo em massa de artistas depois da expatriação do cantor Wolf Biermann, entre os quais a pop star Nina Hagen.



Realismo Romântico

Quando o ciclo de crescimento industrial se fecha na República Federal em meados dos 70, o pop alemão escreveu sua maior legenda internacional: o Kraftwerk,

de Düsseldorf. Refugiando-se nos estúdios e no design minimalista das novas texturas eletrônicas, a imensa energia do grupo recuperava, no refluxo recessivo do horizonte histórico, uma metafisica refinadíssima do material musical, naquilo que Ralf Hütter cunhou, à época, como um novo "realismo romântico", ocupando o espaço vazio deixado, no pós-guerra, pela desaparecimento da música viva popular tradicional em língua nativa, na acelerada ocidentalização, isto é, na colonização cultural pelo pop inglês e americano na parte ocidental. A designação Kraftwerk era, programaticamente, também uma reação de afirmação cultural autóctone alemã contra a miríade de bandas de nomes ingleses. “Autobahn” e “Trans Europa Express” soletravam uma linha continua para frente sem retorno, uma inversão de expectativas do futuro do passado da vanguarda histórica construtivista. Um dos motivos centrais do grupo era o topos romântico do duplo, a autoreferecialidade e espelhamento em bonecos e robôs (“Wir sind Schaufensterpuppen”, “Das Modell”),

que desmontavam as engrenagens do mercado cultural e do consumo. Depois deste salto de qualidade, o "pathos" recessivo foi o solo nativo do assim denominado "kraturock" (Tangerine Dreams) a versão pobre da histõria, na celebração psicodélica e ruralista da cultura das drogas e do hedonismo, que teria seu apogeu na cena Techno dos 90.


(Metafísica de um futuro administrado e tecnocrático Numbers e Computer World)

Interpol and Deutsche Bank, FBI and Scotland Yard
Interpol and Deutsche Bank, FBI and Scotland Yard
Business, Numbers, Money, People
Business, Numbers, Money, People
Computer World
Computer World

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A "Chispa Desembestada" da Esquerda Alemã - Entrevista inédita com o historiador alemão Götz Aly por ocasião do lançamento de seu livro "Unser Kampf". Fischer Verlag, 2008


Foi com muita tristeza e vergonha que pude acompanhar nas últimas semanas o desfecho infame do caso Battisti. Olhei para a gaveta e me lembrei de uma matéria que fizera, mas não pôde ser aproveitada a tempo. Numa tarde de abril de 2008, entrevistei, no hotel Moewenpick de Braunschweig, o historiador Götz Aly, durante a turnê de lançamento de seu polêmico ensaio sobre o maio de 68 alemão, ironicamente denominado "Unser Kampf", "Nossa Luta". Aly, um antigo militante maoísta, convertido ao bom senso e àquilo que os alemães costumam denominar "ein buergerliches Leben", uma vida civilizada, estava no foco da grande mídia televisiva e impressa e também sob a artilharia pesada dos "ex-companheiros" de luta imaginária.

Ainda que tardio, o acerto de contas, com base em documentos desclassificados pelo Governo federal, mostrava de que lado estava efetivamente a Razão, não apenas com os velhos professores retornados, mas sobretudo como o gabinete do ex-Chanceler Kiesenger

soube administrar de maneira eficaz a crise. Mas, além disto, Aly tocava numa questão sensível da radicalização de um setor minoritário dessa esquerda dentro da APO (a assim chamada oposição extraparlamentar), a saber, seu anti-semitismo visceral, ou aquilo que meu ex-professor, mestre e amigo Roberto Schwarz denominara, certa vez, de "chispa desembestada", um acidente mental fulminante, que, como o célebre príon da vaca louca, às vezes, se manifesta sem aviso prévio e atravanca o pensamento. A incubação deste anti-semitismo, mesclado ao antiamericanismo difuso, é um dos dados mais inquietantes deste capítulo histórico, sobretudo na biografia da ex-editora da revista Kronkret Ulrike Meinhof.

Além disto, a recepção do ensaio de Aly se ampliava em torno do debate da anistia presidencial a algumas múmias da segunda geração do RAF,

devidamente preservadas há 25 anos nas prisões seguras deste país. Portanto, o aniversário de 40 anos do maio de 68 saturava, na sensibilidade do público, a já descalibrada cobertura de mídia sobre a história do bando de Baader, Esslin e Ulrike, na foto ao lado, presa no bairro de Langenhagen, Hannover, em 1972.

E neste ponto irrompia um outro debate, diga-se de passagem sempre recorrente, em dois frontes bem claros. Se por um lado havia a necessidade política e jurídica de esclarecimento definitivo da autoria de crimes bárbaros como a excecução do Procurador da República Siegfried Bubak, no início do "Outono" de 1977,

um caso até hoje em aberto, sua autoria nunca pôde ser apurada, embora o Estado ainda mantivesse sob custódia seus agentes, muitas vozes sensatas na mídia se levantavam contra a mistificação retrô e auto-complacente deste capítulo num país que afunda mais rapidamente que o Titanic, pois a fixação neurótica da mídia alemã com o RAF já havia se transformado há décadas quase que num gênero autônomo da indústria de documentários da Spiegel TV, não apenas graças a seu editor Stefan Aust

e seu papel direto no resgate das filhas gêmeas de Ulrike na Sicília, cujo clássico "Das Baader Meinhof Komplex" (tive o privilégio de poder conversar pessoalmente com Stefan Aust e Georg Mascolo na redação da Spiegel em 2002 sobre outro célebre facínora chamado Mohammed Atta)

se transformaria num blockbuster hollywoodiano com o recém falecido diretor Bernd Eichinger, mas, sobretudo, porque o RAF sempre, debaixo deste "rótulo enganador", "Moegelpackung", da embalagem ideológica na qual se fantasiava, geralmente é oferecido e transfigurado por estas pseudo "documentações" como "a" história, por definição, da República Federal nos setenta, o centro de gravidade de sua memória, seu momento mais estridente e histérico, ao oferecer todos os ingredientes do drama e entretenimento barato, a saber, droga, sexo, rock in roll, e, claro, o tabu da loucura, ou da simples possibilidade de nos tornarmos dementes por qualquer acidente mental. Mas não só a grande mídia faturava com o mito dos "bandoleiros" schillerianos. Diretores como Claus Peymann e Heiner Mueller embalavam a carnificina com o pathos da mitologia grega. Isto não só e uma mentira colossal, mas uma "legenda" venenosamente "plantada", como não se cansa de repetir Stefan Aust, pela primeira geração do grupo e seu suicídio coletivo, o mito do "martírio político". Fora o próprio Estado alemão que construiu este elefante branco chamado Stammheim, um sarcófago e mausoléu perfeito para o "último ato" da "tragédia".

É claro que meu apetite histórico ao longo destes últimos 15 anos e meu acompanhamento detalhado de cada movimento desta paisagem me levaram a um espécie de "indigestão" e overdose imaginárias, para não falar dos documentários de guerra. Mas dizendo de forma prosaica, e este é um aspecto relevante e substantivo do tema, a exploração desse imaginário acompanhou ao longo das últimas décadas a própria evolução da forma documental, numa perspectiva mais ampla, numa mescla crescente de ficção, entretenimento e game, ou "Docutainment", hoje uma indústria milionária no Discovery, History Channel e National Geographic. Contudo, o que é mais preocupante nesta tendência é seu efeito nas gerações mais jovens, menos informadas, sem uma referência escrita aos temas, estilizando-se perigosamente em subprodutos de subconsumo como camisetas com estrelas vermelhas no lugar de Che Guevara. O que o outro lado do debate enfatiza é que esta exploração destruiu a memória das vítimas do RAF. Esta é a história que teria de ser contada, dos assassinatos anônimos e cruéis, como de um tenente americano apenas com o objetivo de roubar seus documentos para entrar num quartel e detonar uma bomba.

Mas sem fazer injustiça a todas essas vítimas, a verdadeira história da República Federal neste período podia ser lida como réquiem da plena ocupação nas auto-estradas vazias nos finais de semana durante a Guerra do Yom Kipur em 1973 ao som do novo hit "Autobhan" do Kraftwerk de Duessoldorf, uma metáfora romântica de um futuro do passado abstrato e povoado por robôs automobilistcos da VW em Bratislava e Sâo Paulo que transformariam este país no futuro na Disneylandia do desemprego.

Depois de quase 15 anos de Alemanha, se alguém me perguntasse como você definiria o legado do pensamento, se é que é possivel, ou melhor, como arqueólogo, o que restou daquele pensamento de "esquerda" neste país, mas sobretudo na caricatura que foi e na qual se estilizou esta geração 68, seja na universidade, no parlamento, ou na banalidade do trato do cotidiano, onde seus cliches não preenchem mais o completo vazio da sonaridade das antigas palavras de ordem, coisa muito menos interessantes que os fosséis da explosão cambriana quando a reprodução sexualizada, esta sim, logrou colonizar finalmente a terra firme, responderia de maneira simples, plausível e direta com uma pergunta Voce já assistiu a "Gremlins 1 e 2"? , à sequência integral de "Alien", "Predadores"?, pois é, caro leitor, se você colocar tudo isto no liquificador, o resultado é mais sensato que todo este mingau somado, a saber, que o terrorismo anti-semita, psicopata e autista do RAF, e sua sombra na legião de simpatizantes nas universidades e na classe média durante todo os setenta, o que levou a uma reação desmesurada e histérica das autoridades no trato do problema

que o massacre de Munique, que o sequestro do Airbus da Air France em Entebe, quando estudantes alemães, mais uma vez, fizeram a "triagem" de passageiros judeus, só nao contando, na verdade, que Israel nunca se esquece de seus cidadãos e os abandona à propria sorte, sobretudo, a ditadores canibais, que a célebre visita de Sartre ao "prisioneiro político" e ladrão profissional de carros Andreas Baader na prisão de Stammheim, em Stuttgart,

o mesmo Sartre que saudara o massacre de Munique, e, finalmente a "horror trip" de turistas da baixa classe média alemã em Maiorca num 737 da Lufthansa, que tiraram a sorte grande em realizar uma super turnê gratuita no coração do mundo árabe até Mogadisco na Somália, com direito, inclusive, a um pouso de emergência em Aden, tendo como mestre de cerimônias deste "comando revolucionário" um palestino sádico e prolixo vestido com uma camiseta de Che Guevara. Até o próprio Baader solicitou, cinicamente, uma audiência com as autoridades distanciando-se da "crueldade" do comando palestino com os passageiros. Pois estes foram testemunhas do assassinato do comandante Jürgen Schumann com o tiro na nuca no corredor. Schumann e a comissária Gabriele Dillmann revelaram que a coragem e o cumprimento do dever são o último reduto de nossa dignidade. Foi nisto que pensei ao ver o sorridente Battisti permanecer em território brasileiro e achei razoável retomar as reflexões de Aly.


O que tanto irrita o historiador Götz Aly, de 2008, no ex-militante de 68?

Götz Aly - Procurei trabalhar com as estruturas da pré-história nacional do movimento na perspectiva de um choque geracional inevitável. Entre o final da Segunda Guerra e o início da República Federal, em 1949, ou seja, entre os nascidos no intervalo de 1940 a 1950 e a geração anterior constitui-se um vácuo explosivo, uma bomba de efeito retardado. Nasci em 1947. Os pais dos assim chamados 68 eram, em 1939, ainda bastante jovens, entre 15 e 25 anos. O nacional socialismo foi, sobretudo, uma ditadura de jovens tecnocráticos. Quando o NSDAP chegou ao poder em 1933, Joseph Goebbels tinha 33 anos, Adolf Eichmann, 27, e Adolf Hitler, 40. A barbárie da administração do assim chamado Governo Geral na Polônia ocupada em 1939, e, posteriormente, da Solução Final a partir de 1942, foi conduzida por jovens de 30 anos.

De maneira sumária, nossos pais estavam inteiramente impregnados pela ascensão do nacional socialismo, viveram sua escalada profissional e pessoal nesses anos e terminaram, em 1945, de mãos vazias e completamente desmoralizados. Todos os seus ideais e valores foram zerados, no que se convencinou denominar, com pertinência, de "Hora Zero" da história alemã. Esses pais não podiam nos oferecer qualquer orientação moral. Aqueles que nasceram logo depois, como Helmut Kohl, eram filhos de uma geração impregnada pela experiência da República de Weimar e começaram sua vida política nos anos Adenauer. Por exemplo, meu avô fora soldado na Primeira Guerra, um oficial de bateria em Verdun. Ele aparece na vida de meu pai já como um homem destroçado pela derrota e pela consciência de que lutara por valores falsos.

Em 1968, irrompe, pela segunda vez, no curso das gerações, a história da violência do século XX. Parto do princípio, o que me parece bastante lógico, de que nesse conflito esconde-se o velho veneno do totalitarismo numa aparição tardia. Embora o movimento tenha começado de maneira pacífica e com impulsos libertários, em 1967, essas formas totalitárias do ativismo estudantil ganharam muito rapidamente o controle da situação. Na verdade, o 68 alemão já começara em 67 e se estende até 69.

Mas também escrevi e dediquei este livro, sobretudo, para meus filhos, para que eles tivessem uma visão histórica mais isenta dos acontecimentos da época. Muitos membros de minha geração, nos últimos quarenta anos, mudaram bastante de opinião, mas algo de irritante permanceu, a saber, aquela velha postura arrogante de quem sabe mais ou está do lado certo da história.

Fui militante e tornei-me historiador e, como historiador, fui aos arquivos e percebi que não havia nenhum propósito de olhar apenas a enxurada de literatura que ocupa metros de prateleira e escritos dos ex-68. Trata-se de uma literatura auto-referida, uma literatura de veterenos, por assim dizer, de velhos camaradas, absolutamente desinteressante. Procurei então os arquivos do governo federal, dos nossos antigos adversários, daqueles que nos afirmavam que nosso movimento era anti-liberal e imprevisível e quando li estes documentos encontrei;me novamente no cerne do problema do qual me ocupo já há 26 anos, a saber, que o 68 alemão é uma aparição tardia do vírus do totalitarismo, herdado dos pais dessa geração na Alemanha.

Minha pesquisa vinha privilegiando o papel extremamente negativo e destrutivo dos intelectuais no nacional-socialismo e o que já me ocorrera chamara atenção desde o início era a juventude do movimento. O nacional socialismo foi uma revolução de jovens, uma idolatria da juventude, herdeiro tardio do romanistismo.

Não estou estabelecendo uma equivalência entre ambos os momentos, mas um paralelo e uma linha de continuidade e precisamos falar abertamente sobre elas hoje. Os fóruns estudantis, a luta contra a polícia, a luta contra professores autoritários, uma postura essenciamente anti-burguesa, uma adesão incondicional aos grandes ideias utópicos, o ativismo, e, sobretudo, um coletivismo na idéia imaginária de que se vive num momento de transição entre o tempo do eu para o tempo do nós, forma esta mistura explosiva quer aproxima ambas as gerações.

Sua pesquisa nos aquivos federais revela quer o ex-Chanceler Kiesinger, membro do NSDAP desde 1933, e emblematicamente visto por essa geração como a corporificação da continuidade nazista, formou a época uma comissão independente mista para avaliar o potencial da revolta e procurou o conselho de intelectuais judeus emigrados como Max Horkheimer. De que maneira esse comissão pautou a reação oficial.


Götz Aly - E descobri quer o Chanceler Kiesenger e seus assessores eram muito mais inteligentes do que nós imaginávamos. Esses documentos não podiam chegar a opinião pública na época, pois o centro da sociedade, o assim chamado Mitte não era democrático, mas eles estavam muito atentos a radicalização de ambas as partes. Pesquisas encomendadas pelo governo mostravam na época quer 90% da população era favor da pena de morte, que mais de 50% acreditavam quer o sistema parlamentar não funcionava e que, no fundo, Hitler havia sido apenas a realização de uma idéia certa com métodos errados. O jornal sensacionalsita Bild trabalhava muito bem com os sentimentos paranóicos e anti-comunistas deste Mitte e pediu a epoca a cabeça de Rudi Dutschke.

Trës semanas depois ele sofreu um atentado.

Ao contrário de outros 68 que escreveram e ainda escrevem memórias elegíacas sobre seus feitos heróicos, daquilo que chamo de uma "literatura de veteranos", procurei dar finalmente a palavra aos nossos antigos adversários. Muitos membros do gabinte eram, sem dúvida, ex-integrantes do NSDAP, mas também havia nesse governo muitos jovens e nazistas arrependidos.

Eles reagiram de maneira muito mais inteligente e diferenciada que nós, pois dispunham de uma outra perspectiva em função o que viveram no movimento estudantil nazista antes de 33.

Eles perceberam rapidamente quer aquela dureza peculiar do 68 alemão trazia um vírus incubado na história recente. Na verdade, eles reagiram de naneira muito cautelosa e dispunham do apoio dos judeus retornados, entre os quais Horkheimer, que sabia que essa ruptura de gerações er produto de um vácuo histórico e que poderia terminar muito mal, como, de fato, terminou com o RAF na década seguinte.

A Alemanha havia sido submetida a uma espécie de coma induzido pelos aliados. Nós fugimos, como revolucionários, da pátria de nossos pais e da hipoteca de culpa que esse país ainda hoje carrega tem a ver com 55 milhões de mortos e destes 55 milhões, diga-se claramente, 15 milhões foram executados deliberadamente pelas unidades especiais da SS inicialmente na Polônia e depois pelos Ersatzkommandos na retaguarda do avanço da Wehrmacht na União Soviética e, finalmente, na Solução Final, 6 milhões de judeus, 70% da população judaica da Europa Central.

Fugimos dessa hipoteca da culpa e a projetamos no plano de uma revolução internacional. Posso compreender hoje que, como jovens, que tenhamos fugido do peso insuportável dessa hipoteca e imputado a culpa aos outros. Nesse movimento, simplificamos e linearizamos a história do nacional socialismo como fascismo e o fascismo é causado pela concentração de capital e desemboca, inevitavelmente, no imperialismo, ou seja, não se trata de aquilatar as responsabilidades pessoais, mas de diluí-las como sistêmicas.

Nesse sentido, o fascismo não se encontrava mais na Alemanha, mas disseminava-se, a época, em todas as formas de luta de libertação colonial contra Washington, ele se transferia para Teerã, em Portugal e nas ditaduras latino-americanas. Nos atribuímos uma suposta consciência de guardiães de uma moral revolucionária e nos julgávamos do lado certo da história.(reconstrução das batalhas de rua em Berlim duranrte a visita do Xá em "Das Baader Meinhof Komplex")

Os fascistas nao estavam mais, por assim dizer, em nossa família, na mesa de jantar, na vizinhança e em nossos professores, mas sim em Washington, num outro continente bem longe. Vemos isto de maneira bastante exemplar nas palavras de ordem das passeatas USA SA SS em todas as demonstrações anti-Vietnã, essas palavras de ordem revelam de maneira bem clara ao mecanismo de transferência de culpa. A SS e a SA identificavam-se se agora com os Estados Unidos.


O professor Alexander Mitscherlich afirmou certa vez que pertence a qualquer experiência revolucionária uma certa dose de parricídio simbólico. No caso de Theodor Wissengrund Adorno, o confronto com uma parcela dessa geração radicalizada foi particularmente trágico.


Götz Aly - Que esses jovens alemães, e pertenço a essa geração, não pudessem perceber que Adorno,

Horkheimer ou Loventhal tinham uma outra experiência, que não estivéssemos na posição de entender a diferença entre um professor ativo na Wehrmacht e a geração dos intelectuais judeus emigrados nos desacredita completamente. Eles dispunham de uma experiência do exílio e sabiam exatamente onde aquilo terminava.

E outra conclusão surpreendente é desmontar o consenso de que, em primeiro lugar, 68, num país em regime de plena ocupação e com uma ocidentalização e modernização aceleradas, teria conduzido a uma reforma da estrutura da autoritária da universidade e, em segundo, teria rompido finalmente o silencio sobre o passado


Götz Aly - Trata-se exatamente do contrário.

Essas são as duas maiores mentiras geracionais da história da República Federal. Primeiro acreditar que o movimento de 68 levou a reforma universitária. O processo de refoma já estava em curso desde o início dos anos 60. O governo já havia duplicado o pessoal nas universidades existentes e estava criando novas para absover a demanda crescente. Mas, em segundo Lugar, muito mais importante, esse movimento de fuga foi, na verdade, uma recusa a se ocupar diretamente com o passado nazista ele recalcou e atrasou a confrontação efetiva com essa hipoteca histórica. Esta é a pura verdade.

A desnazificação havia sido conduzida inicialmente pelos aliados até 1954. Há depois uma pequena pausa e, em 1958, começa na Alemanha, pela primeira vez, o processo contra os crimes da ocupação sovietica e depois o grande processo de Auschwitz, que se estende entre 1962 e 1965. Nesse entretempo, Eichmann foi julgado e executado em Jerusalém. Esses processos nos marcaram bastante. Nosso pais não os comentavam, mas na escola eramos submetidos a filmes sobre Auschwitz, por ordem do Estado, sobre o Gueto de Varsóvia. Enquanto isto, o judiciário instaurava, a todo vapor, outros processos e condenações perpétuas entre 67 e 69 houve o maior número de condenações de toda a história da República Federal. É claro que esses processos seriam sempre pouco se comparados a quantidade e enormidade dos crimes de guerra alemães, mas rem relação aquilo que a sociedade da época podia suportar na confrontacao com um passado ainda bem recente, 20 anos, já era expressivo.

Uma pessoa jovem que experimenta, pela primeira vez, o abismo histórico que é Auschwitz tende a recuar e procurar uma estratégia psíquica de escape, o que é até compreensível. Nós éramos entusiastas dessa ocidentalização cultural nos costumes e na cultura, sem dúvida, mas no interior da revolta esse impulso se radicalizou e sofreu uma mutação e terminamos aprisionados num esquema bipolar e maniqueísta da Guerra Fria, um mecanismo do totalitarismo do qual o comunismo também é tributário. Berlim era uma cidade fronte na Guerra Fria. A ideologia da Guerrra Fria foi na verdade uma camada de gelo quase necessária para amortizar e tornar suportável esse esquema traumático, mas ela adiava também a confrontação real com o passado. Veja bem esse esquema interessava tanto as vítimas como aos agressores diante do novo início.

Mas o que é mais supreendente é quer nenhum Kursbuch,

organizado por Hans Magnus Enzensberger,

ou panfleto estudantil da época se ocupa disto, ou seja, com aquilo quer estava nos jornais.

O Sr. Se ocupa com este Kursbuch sobre a China, de junho de 1967, durante a revolução cultural. O que se sabia de fato sobre a revolução cultural chinesa.

Götz Aly - Éramos entusiastas de qualquer processo revolucionário ou ditadura em desenvolvimento. Me coloquei a questão do que poderíamos ter sabido a epoca sobre a China. Michael Domer era o especialista em China no Instituto no Qual eu trabalhava em Berlim. No entusiasmo comunista achávamos a revolução maravilhosa, e posteiormente repetimos o mesmo erro com o Camboja, mas não sabiamos ainda nada sobre Pol Pot. Achamos o radicalismos deste comunismo exemplar. O balanço veio apenas depois, as violação dos direito humanos na China. Estava nos jornais e nos midias americanos. Havia muitas vozes que se mostravam reticentes por este nosso entusiasmo, mas dizíamos quer o quer estava nos jornais era produto dos reacionários e eles mentem sobre a China.

E finalmente quando o movimento desemboca no terrorismo do RAF, o potencial anti-semita finalmente mostra sua verdadeira face, como revela a carreira da jornalista e editora da revista Konkret Ulrike Meinhof.

Götz Aly - A sobrevivência do anti-semitismo ilustra, mais uma vez, o mecanismo de transferência de culpa na identificação com as vítimas palestinas diante de um suposto estado agressor. Ulrike Meinhof é uma figura bastante interessante, que, no meu ponto de vista, merece respeito em sua dimensão histórica. Ela foi a primeira jornalista alemã que perguntou a Marcel Rainicki, como foi no gueto de Varsóvia. Nenhum outro jornalista tivera atü então a coragem de formular esta pergunta. Isto a diferencia neste período de todos os seus colegas de profissão. Meinhof. Em 1967, quando comecou a Guerra dos Seis Dias , três dias depois do morte de Benno Ohnesorge

durante a vistia do Xá Reza Parlevi a Berlim, ela afirmou O coração da esquerda bate por Israel. Mas então ela mergulhou na clandestinidade e na loucura do RAF Nos meses e anos seguintes e o gesto de Willy Brandt em se ajoelhar diante do monumento do Gueto de Varsóvia foi anotado por ela como uma ocupação da classe dominante com contradições lateriais e de repente a essência do anti-semitismo revela-se mais uma vez no gesto anti-capitalista quando ela finalmente afirmou precisamos declarar o povo alemao inocente do anti-semitismo se quisermos ganhá-lo para a revolução, uma afirmação imperdoável, mesmo quando debitamos a loucura da clandestinidade terrorista da qual é produto. Esta radicalização e endurecimento é parte do conflito e dos descaminhos dessa geração. Nós não os procuramos, eles já eram congênitos e muito maiores do podíamos adminstrar e, por isto, em parte, o mergulho na loucura.


A reunificação pôs finalmente um termo a esse desencontro, como uma vingança involuntária da história. Berlim, quer havia sido até entao uma ilha de prosperidade e um reservatório tardio dessas subculturas alternatives ate meados dos oitenta, mantida a subsidios, testemunha uma outra revolucao.


Götz Aly - Se esta geração tentou se exilar na revolução, a história e seus conteúdos recalcados voltou e eles foram pegos de calças curtas. Portanto, essa geração não poderia ter uma relação positiva com a Reunificação. É trágico. A geração 68 não pode perdoar 1989, pois, em primeiro lugar, 89 foi uma revolução real, em segundo lugar, foi uma revolução pacífica. Enquanto a Alemanha dispunha de recursos excedentes para amortizar e manter sob controle os conflitos sociais, essa geração poderia ainda cultivar e perpetuar sua aura alternativa. A Reunificação conduziu a Alemanha finalmente ao terreno dos fatos. Ela encerra a Segunda Guerra Mundial, o fim da ilusão da RDA e se oferecia como possibilidade de integração definitiva dos remanscentes dessa antiga esquerda. Os quer não conseguiram se integrar nutrem um ódio peculiar a ex-RDA e seus cidadãos, que simplesmente deixaram para trás seu país, um ódio quer se alimenta da disparidade entre os sonhos revolucionários de outrora e a história real que os atropelou. Nessa parcela dos ex-68 estão os sentimentos mais arraigados de recusa a normalidade de uma Alemanha reunificada.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Arco-Íris da Gravidade de “Lost”

As reflexões que se seguem foram escritas em maio de 2010 no encerramento da sexta e última temporada da série.

O Arco-Íris da Gravidade de “Lost”

Well, we were just laying there.
And this ghost of your other lover walked in.
And stood there. Made of thin air. Full of desire.
Look. Look. Look. You forgot to take your shirt.
And there's your book. And there's your pen, sitting on the table.
Why these mountains? Why this sky? This long road? This empty room?
Gravity's Angel
Laurie Anderson


Desde que Hollywood abriu as portas da metafísica para a virtualização da narrativa com a trilogia “Matrix” (1999), a relação entre atualidade e memória deslocou o eixo da imaginação para as novas texturas do cyberspace. A despeito de todas as concessões (e até de uma recaída cristã anticlimática em sua sexta e última sexta temporada, que somente potencializou o experimentalismo anterior de seus roteiristas Damon Lindelof e Carlton Cuse na criação de um microcosmo caleidoscópio e randômico, que se reinventava em cada novo lance), “Lost” foi simplesmente uma série extraordinária, tanto por sua aderência à superfície do presente, quanto por sua porosidade a camadas mais densas da narrativa.

Que “Lost” tenha mudado a sintaxe do entretenimento televisivo já parecia uma obviedade desde o final de sua temporada piloto (2004), antes de ganhar a massa crítica que a transformou nesse produto híbrido da indústria, reunindo segmentos de audiências antes incompatíveis. A própria Disney já pensa num parque temático para enquadrar sua mitologia expandida na blogosfera, e muitas de suas seqüências já se incorporaram numa memória pop da atualidade que alimenta desde monografias acadêmicas como o apetite por futuros remakes. O segredo, o como dessa receita não é ainda sequer transparente para seus produtores e nem mesmo se justifica apenas pela ruptura de fronteiras e convenções de gênero, incorporação de todas as possibilidades e plataformas da internet em tempo real, uma audiência simultânea em dezenas de idiomas e centenas de países, tudo isto é, sem dúvida, real, muito pouco conhecido e administrável.

Contudo, mesmo esse encadeamento não seria capaz de explicar por que coube a “Lost” atingir um nervo histórico tão consistente ao forjar um imaginário coeso e auto-engendrado de fora para dentro. Trata-se, para mim, não dessa justificativa a posteriori, que racionaliza o êxito da série como inevitável (o que ninguém esperava nesta escala) em função desse modo operatório, pois mesmo esta justificativa já é uma ficção em retrospecto, mas, antes, de fixar um substrato histórico mais amplo e anterior ao seu piloto, que a tornaram o primeiro capítulo de um grande romance em progresso do presente e, a título de despedida, gostaria apenas de rememorar duas de suas
seqüências mais inquietantes.

Partindo das ruínas do 11 de setembro e do horror paralisante de um mega acidente aéreo construído pela imaginação cinematográfica B de militantes islâmicos em tempo real, os produtores da série, ainda na sua fase piloto, colocavam a questão central do lugar da memória e sua capacidade de síntese e redenção nos flash backs de uma nova tipologia multiétnica de personagens e lugares diante do bombardeio das imagens: "Hurley" Reyes (Jorge Garcia), a ex-policial Ana Lucia Cortez (Michelle Rodriguez), o futuro hispânico da América, Sayid Jarrah (Naveen Andrews), o ex-torturador atormentado da Guarda Republicana, cooptado pela CIA, Mr. Eko (Adewale Akinnuoye- Agbaje), o traficante nigeriano, que assumira a identidade de padre de seu irmão, refaziam clichês da assim denominada antiga “periferia” numa atmosfera brutalizada e espetacular de um mundo de terror global e atores imprevisíveis.

O fantasma da guerra química, já insinuado em Nova Iorque pela Al Qaeda como plano B materializava-se em “Lost” em sua terceira temporada, na seqüência de Benjamin Linus (Michael Emerson), em “The Man Behind the Curtain”
, e os Outros aproximando–se do acampamento Dharma com máscaras de gás depois da “Grande Purgação”.

Essa alusão ao assalto de unidades especiais contra terroristas tchetchenos no teatro em Moscou, recuperava também uma forma de guerra que até mesmo Hitler recusara contra tropas aliadas por ter sido atingido em Ypres por uma granada de gás britânica, e que somente Saddam Hussein (armado até os dentes pelos ocidentais contra a nova
teocracia xiíta de Teerã) voltou a empregar contra crianças e mulheres curdas em 1983. Mas é, sobretudo, no “ethos” da “guerra suja” decretada por Georg W. Bush ao terror e na cena do perdão que o torturador Sayid implora, no exílio, em Paris,

à sua antiga vitima Amira que a série atinge uma intensidade única deste novo teatro da memória total do presente e ultrapassa a linha do entretenimento.

Embora a tortura seja crime imprescritível e prática cotidiana muito além do “Eixo do Mal”, a “licença poética” de “Lost” em relação a Jarrah e a verossimilhança de seu arrependimento não diminuem em nada o que sua vítima lhe retruca. Não são coisas que se dizem em televisão aberta. A construção da cena é de uma inteligência única e notável. Sayid Jarrah

simplesmente não se lembrava mais do nome de sua vítima e esta desejava apenas que ele recuperasse esta memória contra o anonimato do calabouço. A tortura degradara moralmente o personagem a tal ponto que sua culpa não poderia ser expurgada no curso narrativo e um dos paradoxos da “concessão” de “Lost” ao tema é o fato de que a purgação de Sayid é instrumentalizada pela CIA, quando este aborta, em Sidney, um atentado “franquia” de uma célula dormente da Al Qaeda. Que isto tenha sido retomado e expandido enfaticamente pelos produtores até o encerramento, representa, em minha opinião, um dos maiores legados políticos da série.

Mas há também um outro lado não menos instigante nesta história. Se havia ainda na fase inicial pontuada pelos flash backs a esperança latente de que a redenção residisse nessa memória individual como fonte de toda estrutura narrativa, o desdobramento da trama logo rompeu essa fronteira e aproximou-se da tradição literária da imaginação tecnológica, numa reescritura adulta da fábula do “Maravilhoso Mágico de Oz”

da guerra química, presidida por Benjamin Linus, alias de Henry Galé, que chegara supostamente à ilha num balão. Linus foi uma espécie de Mefisto permanente do show até passar o bastão para o não menos pirotécnico Monstro de Fumaça na forma de outro protagonista, John Locke (Terry O'Quinn), uma entidade híbrida que parecia ser inicialmente um prodígio tecnológico como “sistema de defesa da ilha” com enorme potencial militar para a Dharma e seus tentáculos no Pentágono, mas que se diluiu apenas como mais um fantasma da velha metafísica no desfecho melodramático, cristão e edificante dessa odisséia.

Porque muito além das opções dos produtores pela ênfase no “lado humano” da trama, na densidade dramática apurada por Terry O'Quinn, Michael Emerson (Emmy Award, 2009 de Melhor Ator Coadjuvante)

e Matthew Fox (Jack Shephard) em momentos de grande empatia deste show, percebemos que é justamente na brutalidade explícita, no clima de conspiração e paranóia pós 11/09 e o come back triunfante das comunidades de inteligência (depois de seu fracasso em conter e se antecipar aos novos lances da Al Qaeda até então) na condução da cruzada ao terror, aliados à tecnociência e suas possibilidades quase ilimitadas e democráticas de destruição em massa que “Lost” encontrou seu tempero e substrato enigmático de enciclopédia do presente, aproximando-se da obra-prima da Guerra Fria. De forma peculiar e premonitória, o romance de “Lost” já estava pronto na imaginação de seus espectadores antes desse piloto para ser posteriormente reescrito também por estes. A destreza, velocidade e inteligência das reviravoltas do roteiro ao jogar com presente, passado e futuro, numa proliferação de espelhamentos e citações literárias pela introdução dos flash forwards no fim da terceira temporada antecipava que a memória não poderia ser apenas a imaginação do passado, mas também de um futuro nebuloso em “The Shape Things to Come”.

Em o “O Arco Íris da Gravidade”, (1973)

Thomas Pynchon, estilhaça a linha narrativa num mosaico de mais de 600 personagens em torno da paranóia niilista do equilíbrio termodinâmico do poder total. A ogiva termonuclear é literalmente a linha da parábola que nasce do lugar metafórico romântico de uma suposta Natureza originária avança como hybris até o espaço e desemboca no Armagedão da superfície. O equilíbrio do mundo é uma intrincada rede secreta de serviços de inteligência, cuidadosamente organizado segundo a teoria dos jogos, cujo objetivo é a Destruição Mútua Assegurada (MAD). O romance de Pynchon opera uma entropia da própria narrativa que dissolve qualquer identidade individual. “Lost”, contudo, opõe a essa entropia uma resistência onde afloram identidades estáveis e a Iniciativa Dharma em sua relação com a ilha parece ser uma herdeira dos sessenta da agência californiana Rand e seus profetas do Apocalipse na linha de frente do Pentágono que, como Herman Kahn,

um discípulo de Clausewitz, dedicava-se à tarefa de pensar o “impensável”. Desmond David Hume (Henry Ian Cusick) deve apertar o botão da escotilha para manter o mundo “a salvo”.

Finalmente, o pano de fundo e segredo de “Lost” ambientam-se no cenário fantasmagórico e ruinoso desse mundo bipolar, que somente existe hoje na memória
histórica diluída. Ao recompor sua aura de nostalgia com uma nova lógica aleatória num lugar privilegiado e ainda centralizante como a ilha, isto é, de fora para dentro, a série virtualiza a pluralidade dos novos poderes do mundo real numa espécie de Aleph shakespeariano, e, do outro lado do oceano, neste mundo pós-ocidental e de terror assimétrico, sentimos retrospectivamente saudades da racionalidade do antigo adversário.

José Galisi Filho, maio de 2010