ERSTER GESANG
Einer horcht. Er wartet. Er hält
den Atem an, ganz in der Nähe,
Her, Er sagt: Der da spricht, das bin ich.
Nie wieder, sagt er,
wird es so ruhig sein,
so trocken und warm wie jetzt.
Er hört sich
in seinem rauschenden Kopf.
Es ist niemand da außer dem,
der da sagt: Das muß ich sein.
Ich warte, halte den Atem an,
lausche. Das ferne Geräusch
in den Ohren, diesen Antennen
aus weichem Fleisch, bedeutet nichts.
Es ist nur das Blut,
das in der Ader schlägt.
Ich habe lang gewartet,
mit angehaltenem Atem.
Weißes Rauschen im Kopffhoerer
meiner Zeitmaschine.
Stummer kosmischer Lärm.
Kein Klopfzeichen. Kein Hilfeschrei.
Funkstille.
Entweder ist es aus,
sage ich mir, oder es hat
noch nicht angefangen.
Jetzt aber! Jetzt:
Ein Knirschen. Ein Scharren. Ein Riß.
Das ist es. Ein eisiger Fingernagel,
der an der Tür kratzt und stockt.
Etwas reißt.
Eine endlose Segeltuchbahn,
ein schneeweißer Leinwandstreifen,
der erst langsam,
dann rascher und immer rascher
und fauchend entzweireißt.
Das ist der Anfang.
Hört ihr? Hört ihr es nicht?
Haltet euch fest!
Dann wird es wieder still.
Nur in der Wand klirrt
etwas Dünngeschliffenes nach,
ein kristallenes Zittern,
das schwächer wird
und vergeht.
Das war es.
war es das? Ja,
das muß es gewesen sein.
Das war der Anfang.
Der Anfang vom Ende
ist immer diskret.
Es ist elf Uhr vierzig
an Bord. Die stählerne Haut
unter der Wasserlinie klafft,
zweihundert Meter lang,
aufgeschlitzt
von einem unvorstellbaren Messer.
Das Wasser schießt in die Schotten.
An dem leuchtenden Rumpf
gleitet, dreißig Meter hoch
über dem Meeresspiegel, schwarz
und lautlos der Eisberg vorbei
und bleibt zurück in der Dunkelheit.
Canto primeiro
Alguém escuta. Espera. Prende
o fôlego, bem perto,
aqui. E diz aquele que fala sou eu.
Nunca mais, diz ele,
será tão calmo,
tão seco e quente como agora.
Ele se escuta
em sua cabeça rumorejamnte.
Não há ninguém aqui além
de quem diz sópode ser eu.
Eu espero, prendo o fôlego,
escuto. O ruído ao longe
Nos ouvidos, essas antenas
de carne tenra, nada significa.
É apenas o sangue
que bate nas veias.
Esperei muito tempo,
com o fôlego preso.
Rumor branco nos fone
de minha máquina do tempo.
Muda estática cósmica.
Ninguém bate à porta nem grita por socorro.
O rádio, mudo.
Ou já terminou,
digo a mim mesmo, ou
ainda não começou.
Agora sim! Lá vai
Um rangido. Um raspar. Uma rotura.
Aí está. Uma unha glacial
que arranha a porta e estaca.
Algo se rasga.
Uma lona de vela infinda,
uma tira de tela branca como a neve,
primeiro devagar,
depois rápido, sempre mais rápido
e sibilante rasga-se em dois.
Esse é o início.
Vocês ouvem Não ouvem
Segurem-se firme!
Então volta o silêncio.
Só nas paredes
ouve-se um tênue tilintar,
um tremor de cristal
que se torna fraco
e se esvai.
Foi tudo.
Tudo, foi É,
só pode ter sido.
Esse foi o início.
O início do fim
é sempre discreto.
São onze e quarenta
a bordo. Há uma fenda
de duzentos metros
sob a linha de flutuação
na pele de aço, talhada
por uma faca inconcebíbel.
A água aflui às anteparas.
trinta metros acima do
nível do mar, negro
e silente, desliza o iceberg
Junto ao casco luzidio
e desaparece na escuridão.
Tradução José Marcos Mariani de Macedo. O Naufrágio do Titanic uma Comédia. São paulo, Companhia das Letras, 2000, pp. 11-13.
Razões adicionais para os poetas mentirem
Porque o momento
no qual a palavra feliz
é pronunciada,
jamais é o momento feliz.
Porque quem morre de sede
Não pronuncia sua sede.
Porque na boca da classe operária
Não existe a palavra classe operária.
Porque quem desespera
Não tem vontade de dizer:
“Sou um desesperado”.
Porque orgasmo e orgasmo
Não são conciliáveis.
Porque o moribundo em vez de alegar:
“estou morrendo”
só deixa perceber um ruído surdo
que não compreendemos.
Porque são os vivos
Que chateiam os mortos
Com suas notícias catastróficas.
Porque as palavras chegam tarde demais,
Ou cedo demais.
Porque, portanto,é sempre um outro,
Sempre um outro
Quem fala por aí,
E porque aquele
Do qual se fala
se cala.”
Tradução Armindo Trevisan e Kurt Scharf. “Eu falo dos que não falam”. Brasiliense Instituto Goethe, São Paulo, 1985, p. 90-91.
A classe dos filósofos
Qe somos inteligentes, é verdade. Mas longe
De transformar o mundo, tiramos no palco
Coelhos de nosso cérebro, coelhos e pombos,
Bandos de pombos brancos como a neve, que cagam
Sem parar em cima dos livros. Que a razão seja razão
E não razão, para sacar isso,
A gente não precisa ser Hegel, para tanto basta
Uma olhadela no espelho de bolso. Este nos mostra a nós
Em casacões azuis, flutuantes, bordados
Com estrelas prateadas e nas cabeças
Chapéus pontiagudos. Reunimo-nos, no porão,
Onde estão os arquivos mortos, para um congresso sobre Hegel,
E vamos ao trabalho. Abanamos
Pareceres, pêndulos, pesquisas,
Fazemos moverem-se as mesas, perguntamos:
Que grau de realidade tem a realidade? Malicioso,
Hegel sorri. Pintamo-lhe um bigode.
Já se parece com Stalin. O Congresso
da dança. Por toda a parte nenhum vulcão. Discretos,
Os guardas estão estão de guarda. Tudo tranqüilo,
Nosso aparelho psíquico faz sair, como O cacete da mochila
Dos irmãos Grimm, frases que acertam, e nós nos dizemos:
Dentro de cada tira brutal há, sim,
Um amigo compreensivo que dá proteção,
Dentro do qual há um tira brutal. Abracadabra.
À guisa de um enorme lenço, desdobramos
A Teoria, enquanto diante do seminário, feito um bunker,
Aguardam, modestos, os senhores de gabardina.
Fumam, usam pouco as armas de serviço,
E cuidam dos cargos oficiais, das flores de papel,
E da sujeira dos pombos que cobre tudo, branca como a neve.
Tradução Armindo Trevisan e Kurt Scharf. “Eu falo dos que não falam”. Brasiliense Instituto Goethe, São Paulo, 1985, p. 102-103.
Hans Magnus Enzensberger completou setenta anos e meio século de poesia. No retrospecto de sua carreira, fecha-se um ciclo de estatura clássica, que se espande por todos os quadrantes do continente literário: poeta, dramaturgo, tradutor, organizador de antologias notáveis, entre as quais o “Museu da Poesia Moderna”, editor da revista “Kursbuch” nos sessenta e da “Trans-Atlantik”, no início dos noventa, mas sobretudo o ensaísta de “Detalhes” (1962), “Política e Crime” (1964), “Mediocridade e Loucura” (1988) e dos dois manifestos fundadores de nosso horizonte intelectual: “Guerra Civil” e “A Grande Migração” (1993).
No meio da fogueira da Guerra de Secessão da Iuguslávia, Enzensberger dava forma, numa prosa concisa, à nova subjetividade balcanizada do presente, liberando um olhar sobre o autismo da "guerra civil molecular" nas metrópoles do mundo.
Se o pensamento dialético critica aquilo de que se afasta, “Guerra Civil” era regido por esse movimento duplo: o desaparecimento das categorias tradicionais de análise, enraizada no território pantanoso dos clichês morais da noção esclarecida de sujeito e sua confiança num progresso automático e abstrato da espécie, trazia, em seu refluxo, a quebra de uma última reserva intelectual na forma de um contrasenso: o nexo objetivo de dependência entre a miséria e a prosperidade evaporava-se diante de nossos olhos neste novo estágio do capital, o que significa que três quartos da humanidade estão condenados ao extermínio lógico, ou constituem, no mínimo, um “resto” sem sujeito. Como todos sabemos, esse pensamento não encontrou ainda uma forma conceitual e nem tampouco expressão lírica.
Essa é, portanto, a figura e a forma da lírica tardia de Enzensberger a partir dos anos setenta, depois de sua experiência cubana: a tematização da dialética do progresso, que supera e eleva hegelianamente o "fim", deslocando-o interminavelmente na imanência reflexiva da "coisa" (Sache) e também a matriz de sua relação eletiva com o “topoi” chave da antiga Teoria Crítica. Se Adorno e Horkheimer tematizavam em sua “Dialética do Esclarecimento” nos anos quarenta o momento regressivo desse progresso, Enzensberger compreende-o como a reversão permanente, na forma de uma peripécia dramática, das expectativas que circulam, por um lado, entre a imobilidade do eterno retorno das mitologias que se projetam no céu da História e, por outro, de sua secularização no chão experiência material humana. Já na antologia “Mausoléu” (1975), 37 baladas sobre o progresso, Hans Magnus encenava, já na escolha desta forma musical, o movimento em falsete de progresso que se esquece na prosa da história. Três anos depois, “O Naufrágio do Titanic, Uma Comédia” acentuava esse processo na forma de um eu lírico blindado no instante de seu desaparecimento sob o oceano glacial. Em nenhum outro livro de Hans Magnus, a expressão “Eu” é tão aguda, enfática, bela e cristalina. De fato, Enzensberger parece colocar de ponta cabeça a dialética hegelina, pois não é a negatividade da liberdade ideal que move a história, mas a produção material que acelera e “encena” espetacularmente seu fim.
Vinte anos depois, o último livro de poemas de Hans Magnus Enzensberger, “Mais Leve que o ar Fábulas Morais”, traz um pequeno poema dedicado ao “Mercado Mundial”, que nos lembra, além dos vírus mutantes da Internet, tão instáveis comos fluxos as bolsas, algo mais prosaico do que o naufrágio colossal do Titanic. O tempo livre para ler poesia tende a aumentar com o desemprego. O foco do poema é a própria sarjeta e um mendigo no calçadão, no qual se encontram as “novidades” de segunda de todos os lugares. Se existe um lugar hoje para o sujeito lírico, sem dúvida, é a sarjeta que fica exatamente onde termina a fila do desemprego. Assim como seu colega Ulrich Beck, que previne os alemães do risco da brasilização de seu mercado de trabalho, Enzensberger não se esquece do samba brasileiro e parece concordar que a Alemanha em 10 anos será bem mais morena e mestiça do que é hoje e, arremata, infelizmente nem tão segura.
Hans Maguns Enzensberger me concedeu esta entreavista em sua útima visita a Hannover, onde esteve para a gravação de uma programa na rádio estadual da Baixa Saxônia, num hotel, ironicamente, denominado "Maritim".
Há quarenta anos em sua antologia de ensaios “Detalhes” (“Enzelheiten”) o Sr. fazia um balanço do colapso da vanguarda histórica, estabelecendo o parentesco entre seu impulso de superação à mesma motricidade vazia que alimentou os movimentos fascistas na primeira metade do século. Tomemos este exemplo concreto no movimento congelado da escultura do norte-americano Michael Heizer: uma imensa rampa que aponta para o nada no meio do deserto de Nevada. Nenhum museu do mundo poderia contê-la. Ela mimetiza um fundamentalismo da vangurada, elementar como o solo neste salto no vazio, mas representa também uma volta ao silêncio e ao repouso.
Se a vanguarda é conhecida como a tropa de choque, quando examinamos de perto a sua auto-compreensão, percebemos, na verdade, que ela anseia ao repouso e a reconciliação como o quadrado negro do construtivista russo Malenkevitch. A questão é: como podemos saber se a tropa de choque chegou ou não ao seu destino ao cruzar a linha do horizonte. A verdadeira vanguarda não seria, então, aquela que atingiu este repouso, enquanto que sua simulação são os outros que continuam marchando nesta motricidade vazia, encenando o mesmo ritual pos-moderno dos museus e do mercado de arte, como o Sr. diz no ensaio “As Aporias da Vanguarda”, de 1962? Onde estão estas energias neste fim de século? O seu ultimo livro fala de “uma poesia mais leve que o ar”, mas este seculo ficara conhecido como o do naufragio da subjetividade, do naufragio lirico de do Titanic. O Sr. chegou a este repouso na imersão nestes versos?
Hans Magnus Enzensberger - Nunca saberemos se ela chegou ou não do outro lado, mas esta energia poderia vir da luz desta manhã de sol. Ele esta simplesmente la brilhando. Esta energia tem a ver com a nossa própria espécie e sua notavel teimosia. Esta rampa poderia muito bem ser a mesma que serve ao trabalho de Sísifo, um heroi da paz, como voce sabe, e não a tropa de choque, realizando seu trabalho paciente. Nós não conseguimos frear sob hipótese alguma este desejo e a fantasia de nossa especie, eles sao irresitíveis neste salto para o vazio no pior e no melhor. Mas no meu poema do naufrágio, não formulo o “fim”, mas a iminência do fim, a aproximação com um “fim” que será sempre adiado. Enquanto ainda falarmos, este fim nuca deixara de recuar.
Mas se o sujeito lírico é uma fição (“por aquele de quem se fala, cala”), então a quem podemos atribuir o testemunho deste naufrágio? Nesta aproximação pemanente com o fim, o Sr. formula o mesmo paradoxo da ideia hegeliana de “aufheben”, superação, o verbo hegeliano ja em seu aspecto “verenden” exprime o trabalho de um acabamento permanente. O Sr. afirma tambem num poema neste livro que “não e preciso ler Hegel para sacar que a Razao e Razao e não e, basta olhar o espelho de bolso”, ou seja: a Razao não e o fim, mas o meio, a fronteira do fim que recua neste processo. Mas o início deste “fim”, como afirma o poema, “é sempre discreto”, ele já aconteceu, o iceberg já atingiu a estrutura do nosso sistema e o naufrágio já está a meio caminho...
Cruzada Albigense contra os cátaros
Hans Magnus Enzensberger – A filosofia também “acabou”. Não temos mais uma história da filsofia. No século passado tínhamos aqueles volumosos compendios, mas hoje ninguem mais acredita na existencia dela. Quando falamos, adiamos este fim, desejamos adia-lo até onde nosso fôlego suporta. Quando falamos de “fim” ele não pode estar lá, pois senão não poderíamos falar dele. O Apocalispse é, em primeiro lugar, uma fantasia. Existem a cada dia “mini” Apocalispes, mas é da idéia mesma do Apocalispe que ele seja total. O fim do mundo vale para todos sem exclusão. O Apocalispse é uma gigantesca fantasia democrática, quando todos são iguais na queda, ja na religiao, portanto, o Apocalipse não é apenas uma fantasia de terror, mas a expressao do desejo do fim nesta igualdade. Mas a realidade não é assim, podemos estar tendo alucinação com o Apocalispse, enquanto na realidade estamos aqui sentados tomando uma xícara de café numa manhã de sol.
O Apocalispse segundo o Discovery Channel em 21.12.2012
Mas então quem daria testemunho este resto em sentido lógico, que é razao e não é? O Sr. descreve eum seu útlimo libro no poema “Mercado Global” um mendigo que observa o desfile das bugingangas do consumo sozinho na calcada. Hoje, sequer mais uma palavra para a palavra exploração mais existe na poesia. Em nos seus ensaios o Sr. procura formula uma viagem a este novo continente sem nome para o qual quando temos ainda uma malha conceitual pronta. Qual e o nome desta palavra hoje?
Sebastião Salgado "Êxodos"
Hans Magnus Enzensberger - Eu sou um ensaísta e não um filósofo. Um filósofo tem de argumentar e definir com um mínimo de precisão sua rede conceitual, embora hoje os filósofos tenham abdicado ha muito de argumentar. Os filósofos hoje deliram. Temos no mundo de hoje filósofos delirantes, temos uma filosofia delirante, uma arte na qual os franceses sao especialistas e não encontram concorrentes, trata-se de um discurso muito pouco confiavel como o da Bíblia. Quando nós desejamos contradize-los, então eles dizem: mas eu escrevo literatura, e quando completamos: mas para um escritor voce escreve mal, aí eles arrebatam, mas eu sou um filósofo. É um truque barato, mas que funciona. Por que não usar este truque, mas ele é muito visível, mas isto é uma paródia daquilo que poderísmos entender por filosofia consistente. Mas naquilo que diz respeito ao resto como você formulou, a ideia de exploração temos hoje um problema interessante. Hoje milhoes de pessoas anseiam desesperadamente ser exploradas, um explorador qualquer. A esperança hoje é a exploração, as pessoas esperam que ela venha, mas niguém aparece. A maquinização conduziu a este paradoxo da demanda. O Capital simplesmente prescinde destas pessoas, a exploração não é mais o horror do qual antes tanto se reclamava, mas as pessoas esperam ser exploradas. O grande problema da África é que ela não é mais interessante, não oferece petróleo, diamantes para os aventureiros, os exploradores não precisam mais dela,uma situação bastante piorada em relação ao passado recente do Capital.
O Sr. afirmou certa vez que o Bild é mais radical que seus críticos ao vender a ausência de leitura como leitura. Com a teoria do “midia zero” descrevia uma projeto de apagamento da realidade que sequer as vanguardas historicas ousaram imaginar. E agora com a Internet. Este limite teria sido superado?
Hans Magnus Enzensberger- Como lhe disse, nossa espécie não tem limites e lanca mao de todos os recursos possiveis. Estes novos meios sao prova de uma superção ainda mais radical das fronteiras anteirores, neste capitalismo digitalizado, avança-se ate mesmo para a supressao da propria ideia tradicional de realidade. Com a nova biotecnologia, por exemplo, trata-se não mais da exploração de classes em sentido tradicional, como um estágio da força de trabalho, mas do proprio capital genético no qual bilhoes estão sendo investidos.
Mas a realidade último do pensamento sua irredutibilidade para a maioria ainda seria próprio corpo, da forca de trabalho abstrata no qual estava o ultimo refugio da consciencia. Esta ultima reseva estariaecada?.
Hans Magnus Enznesberger – Mesmo este procura ser agora desmaterializado. Há projetos de inteligência artificial, vinculados a motivos das utopias tecnicistas, pois o corpo e perecivel, mortal, adoece e deveria ser substituido por maquinas, ou partes mecanicas, mas esta tambem e uma visão barateda da utopia, condenada ao fracasso como sua utopia irma socialista, que fracassou. Sou muito cetico nesta aspecto. Nestes projetos de inteligência artificial investem-se bilhões para resultados risíveis, sequer um robô que pudesse limpar o chão direito estas pesquisas conseguiram produzir. Estas máquinas inteligentes com inteligência somente tem o nome em comum. Agora procura-se melhorar geneticamente o homem, e os resultados podem ser preocupantes.
O que teria acontecido com Sloterdijk, um curto circuito mental? Ele afirmou a "Folha", recentemente, que Habermas “seria um nazista de primeira hora, um fanãtico lider mirim da HJ, cujo fé no “Fuehrer” ate a vitória somente mais tarde seria substitutido pelos ensinamentos de Schelling e Heidegger”?
Hans Magnus Enzensberger – (Pega o jornal, vê a foto e a entrevista, risos) Esta é muito boa, sério?! Veja este homem cortando a grama la fora. Ele pode sofrer um acidente de trabalho por vários motivos. Quando se pensa, também podemos sofrer um acidente de trabalho, uma perda de realidade. Acho que é o caso de Solterdijk neste episódio. Isto não tem nada a ver com a perda de inteligência, mas as pessoas podem enlouqecer de uma ora para outra simplesmente. Porque somente as pessoas comuns tem o direito de endoidar! Os artistas e os filosofos padecem muitas vezes de uma paranoia narcisista que decorre deste desejo de representatividade e reconhecimento, mas ao perceberem que seu discurso patina no vazio...
Hitler e Speer sentiam-se como artistas e decretaram o fim do mundo
Hans Magnus Enzensberger – Esta é a questão da paranóia artistica. Goebbels também era um escritor. Todos eles dividiam esta convição da existência de uma “obra de arte total”. O problema deste tipo de artista, de péssimo artista, é a incapacidade em compreender a impotência da arte, e permacer no delírio infantil dos diletantes.
Germania A nova Capital do Mundo e Disneylândia do Terror, numa época em que ainda não existiam "Legos"
Os artistas inteligentes como Heiner Mueller sabem que são impotentes, a arte não pode mudar a realidade como a ciencia, mas a maneira de ver e se aproximar desta realidade. Hitler e Speer não entendiam esta trivialidade e se deleitavam com fantasias infantis onipontentes sem realizar uma autoreflexão como no moderno.
A arte ainda precisa de imagens inimigas? É ainda possivel escrever poemas como “O Naufrágio do Titanic”?
Hans Magnus Enzensberger - Estes poemas são muito modestos, bastante relativos, e sempre procuram tomar distância como em meu ultimo livro “Mais leve que o ar”. Não temos mais os homens universais e geniais como Leonardo e Goethe, essa potencia criativa, essa universalidade não é mais possível e nem tampouco podemos ter nostalgia dela, ou de um patamar sublime que se alce sobre a humanidade. Os artistas são apenas seres humanos iguais em tudo, absolutamente em tudo iguais aos outros, eles não são melhores e nem piores, e portanto, não devem ter ilusões. Acredito assim que haja um momento em que possamos ainda fazer algo adiante. Temos agora varios “fins” em nosso horizonte: há duzentos anos, falava-se do fim do período da arte depois da morte de Goethe, simultaneamentee Hegel decretava o fim/superação (“aufeben” da filosofia), depois tivemos o fim das vanguardas, da utopia socialista, e finalmente da linguagem, mas este fim já dura pelo menos duzentos anos. Este fim é muito longo.
No Museu Universal da Poesia, o Sr. acobou de acrescentar, em seu último livro, que trata da globalização, da Internet e seus vírus etc, um poema sobre o samba brasileiro. Será que valeria também o teorema da brasilização de Ulrich Beck para a lírica moderna, ou o Sr, estaria escrevendo um novo capítulo de “A Teoria do Turismo 2” na era do capital eletrônico. O Sr. vê o samba de fora como um “kistch”, da espécie “world music” para os postos avançados da classe média alema em férias em Maiorca, Tenerife, Ibiza, ou dançando no sem futuro e autismo techno da Love Parade berlinense, ou simplesmente uma reserva de sentimentos tradicionais e nostálgicos que poderiam ser ainda preservados nesta era da poesia globalizada.
Hans Magnus Enzensberger - Naturalmente, que com o samba ocorre algo semelhante àquilo que acontecera com o tango nos anos vinte, e hoje com a música cubana a e caribenha: uma paródia involuntária ou intencional, um travestismo de formas, ou mesmo uma pasteurização sob o rotulo da tal de “multiculturalidade”. Isso significaria, entre outras coisas, uma trivialização e malentendidos. Nem sempre o híbrido nesse campo significa uma qualidade técnica superior. Da mesma maneira, vejo a questão da “brasilianização”. A propósito, eu a considero também inevitável, no sentido de que a Europa nos próximos trintas anos será cada vez mais mestiça e morena. Mas o preços é muito mais alto do que Beck supõe. Nenhum idílio: mas conflitos violentos com favelas, “gangs” e a insegurança generalizada. São Paulo não é o que podemos chamar propriamente de um lugar de descanso!
No final do século, valeria o mote de Kafka de que se existiria esperanca, mas não para nós. Nós brasileiros não queremos ser o “resto” da modernização.
Hans Magnus Enzensberger – O Brasil é um país que acreditava que o futuro estivesse do seu lado e que trabalhava para ele. “Chegaremos ainda lá”, era o slogan, mas o Ocidente há muito já abdicara dessa ilusão do progresso e sabia qual era seu preço real.
A bandeira brasileira é a unica bandeira do mundo que ostenta o slogan ordem e progresso (risos). É um slogan fantástico para um país. E da mesma maneira, valeria para o Brasil o que vale para o fim do perído da arte, que continua mesmo depois de seu “fim”. Quando ha há duzentos anos, Hegel decretava este “fim” ou “superação da arte”, esta descobria para si um espaco exclusivo de reflexividade que impregnou a consciência do moderno, ela continuava, porém, adiada nessa crescente autoreflexão sobre seus fins e meios.
O "Brasil Grande" de Geisel e Golbery no qual cresci nos meues verdes negros anos, meu primeiro "clássico" e a última visão realmente estratégica do pais, quero dizer, mantendo suas fronteiras atuais
Esse progresso para o Brasil dentro da modernização era também uma perspectiva sempre virtual e adiada. Esse “grande futuro”, que chegaria na forma de uma “grande potência”, quando os “problemas estivessem resolvidos”, com base na “gigantesca vitalidade” do país simplesmente não chegaram. Esse fim nunca chegou e no seu lugar apareceu uma outra desordem. O que vem depois da ordem e do progresso? Sou cético e não vejo a resolução desse problema, no qual, como na arte, ele prossegue mas sem uma base de sustenção no presente, poderíamos falar que o Brasil relativizou bastante a dialética de ambos os pólos de ordem e progresso, não qual há uma mistura de (Enzensberger fala em perfeito português) um pouquinho de progresso e regresso.
Talvez seu grande verso: “Pois aquele de que se fala, cala”. Esses versos encerram a verdade de nosso século da guerra tecnológica, de Verdun Auschiwitz e do Goulag
Hans Magnus Enzenberger - A maioria não tem voz, a esmagadora maioria da humanidade não tem voz e a tentativa de delegá-la e de representá-la na arte é uma catastrofe. No marxismo, houve a tentativa de figurar essa voz na vanguarda do proletariado ou da classe trabalhadora, do partido, do comitê central como instâncias de representação. A arte ocupou este silêncio, bem, como a política. É absolutamente problemático falar do fracasso dos outros. Este funcionário do hotel à nossa frente, como ele poderia compreender o que está errado no mundo e falar por essa maioria? Afirmei poeticamente uma vez que falava dos que não falavam, mas era apenas uma licença poetica Posso conversar com grande entusiasmo com as pessoas das favelas brasileiras, mas não posso falar por elas.
Este é o original da entrevista publicada pelo Caderno Mais! da Folha de São Paulo em 12.12.1999 sob o título "Depois da Ordem e do Progresso". Seus direitos autorais pertencem exclusivamente à Empresa Folha da Manhã.
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