sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pop made in Germany

Pop made in Germany

A organização de uma cultura pop genuinamente „made in Gemany“ é um dos capítulos mais instigantes da ocidentalização no fronte da Guerra Fria, porque, antes de acentuar a dualidade politica dos sistemas, esta desafiava, em ambas as partes do país, o lastro visceralmente anti-burguês da recusa cultural nazista ao „american way of life“, recuperando, em seu desenvolvimento, muitas vezes, figuras da crítica romântica conservadora à assim chamada „civilização“, expressão entendida na língua alemã culta como a „decadência cultural“.

A primeira etapa desta batalha pelos corações e mentes deu-se no rádio, na RIAS Berlim.

Não apenas a propaganda ideológica atingia o outro lado da fronteira, mas o jazz, o swing, o beat e a tentação do consumo na vitrine luminosa da ex-capital ocupada no início do milagre econômico em 1957.

A avalanche dos novos ritmos (programa Beat Club, meados de sessenta)

começou com o rebolado irresistível de Elvis Presley

ao chegar a Bremen em 1958 para prestar serviço militar em Wiesbaden, onde este conheceria sua futura esposa Prisiclla no Eagle Club. Na terminologia nazista e no imaginário da geração que sobrevivera à Guerra e ultrapassara os 40, aquilo era, por definição, a „Negermusik“.

Cartaz nazista "É proibido dançar swing"




Lixo cultural do Ocidente

Se na parte ocidental o beat assombrava a imprensa conservadora Springer-Bild com a degradação moral da juventude de cabelos compridos e a flexibilização dos costumes, na parte oriental, o aparelho cultural do SED e o braço da juventude militarizada, a FDJ,

ainda estavam divididos quanto ao caminho a tomar até exatamente a explosão da Beatlemania na turnê da banda (que começara sua carreira nos porões de Hamburgo) na República Federal em 1965. Neste ano, o então secretário geral do SED, Walter Ullbricht,

selou a vitória da ala estalinista mais conservadora no X Congresso do partido:

„Camaradas, será que temos de consumir todo este lixo cultural que vem do Ocidente? Eu acho que temos de por um ponto final nesta monotonia do iê-iê-iê.“ Como observa o historiador da música Peter Wicke, esta dialética entre abertura e fechamento, originária nas divisões internas do Partido, e sua prioridade, por um lado, em capitalizar e domesticar o impulso da revolta das novas bandas, mas, por outro, não conseguir deter suas consequências, marcaria toda a historia da RDA até sua dissolução.



(Versão socialista do programa ocidental Beat Club, o OktoberKlub e o rock de linha partidária pro SED e temática "internacionalista" com Hartmut König na célebre canção

Sag mir wo du stehst
Und welchen Weg du gehst
Sag mir wo du stehst
Und welchen Weg du gehst

Zurück oder vorwärts du mußt dich entschließen
Wir bringen die Zeit nach vorn' Stück um Stück
Du kannst nicht bei uns und bei ihnen genießen
Denn wenn du im Kreis gehst dann bleibst du zurück)



Em 1972, Erich Honecker

flexibilizaria a política cultural, afirmando que não poderia mais haver „tabus“ em artes, embora a censura e a perseguição fossem onipresentes e terminassem no final da década com um êxodo em massa de artistas depois da expatriação do cantor Wolf Biermann, entre os quais a pop star Nina Hagen.



Realismo Romântico

Quando o ciclo de crescimento industrial se fecha na República Federal em meados dos 70, o pop alemão escreveu sua maior legenda internacional: o Kraftwerk,

de Düsseldorf. Refugiando-se nos estúdios e no design minimalista das novas texturas eletrônicas, a imensa energia do grupo recuperava, no refluxo recessivo do horizonte histórico, uma metafisica refinadíssima do material musical, naquilo que Ralf Hütter cunhou, à época, como um novo "realismo romântico", ocupando o espaço vazio deixado, no pós-guerra, pela desaparecimento da música viva popular tradicional em língua nativa, na acelerada ocidentalização, isto é, na colonização cultural pelo pop inglês e americano na parte ocidental. A designação Kraftwerk era, programaticamente, também uma reação de afirmação cultural autóctone alemã contra a miríade de bandas de nomes ingleses. “Autobahn” e “Trans Europa Express” soletravam uma linha continua para frente sem retorno, uma inversão de expectativas do futuro do passado da vanguarda histórica construtivista. Um dos motivos centrais do grupo era o topos romântico do duplo, a autoreferecialidade e espelhamento em bonecos e robôs (“Wir sind Schaufensterpuppen”, “Das Modell”),

que desmontavam as engrenagens do mercado cultural e do consumo. Depois deste salto de qualidade, o "pathos" recessivo foi o solo nativo do assim denominado "kraturock" (Tangerine Dreams) a versão pobre da histõria, na celebração psicodélica e ruralista da cultura das drogas e do hedonismo, que teria seu apogeu na cena Techno dos 90.


(Metafísica de um futuro administrado e tecnocrático Numbers e Computer World)

Interpol and Deutsche Bank, FBI and Scotland Yard
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Business, Numbers, Money, People
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Computer World
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